sábado, julho 23, 2005


As minhas mãos têm nomes que eu não entendo. Dorme a escuridão de lábios transparentes, e no imóvel fogo da luz desdobra-se mais um dia na minha mão esquerda. mão de mar, mulher, paixão. Outros dirão que as mãos são apenas minhas, que a paixão ou o mar é o que talvez nelas brilha; assim, elas são nuas como uma mágoa que me muda os lábios para as palavras que aqui se ergue do chão para uma terra calcinada e de trevas. Talhada assim a nudez, não há esplendor que de manhã não se demore no brusco ardor do meu olhar, nem luzes, nem animais alvoraçados pelo sopro vivo dos tormentos que assim cintile. Nada, nenhuma arte aqui se deita em cada amanhecer de uma outra letra. Nenhum relógio vos ouve, e todo o silêncio é como um caule que ao desabrigo da terra se ergue orvalhado mesmo nas mais secas madrugadas.