quinta-feira, julho 14, 2005


Lá onde outrora eu sou ninguém, as máquinas desabitam-me o peito e todo eu sou uma janela-garganta escancarada para os dias mortos da minha cabeça; neste instante, se fosse uma cinematografia o centro da minha face seria todo um núcleo silencioso, obstinado e de uma sombra infinita. Através das janelas desabitadas, eu sou as casas que oscilam abandonadas e colocadas ao rumor do vento. Memória apagada, esquecimento de uma chave irrecuperável, as rugas em torno do meu olhar de criança perderam a raiva dos dias e hoje são lentas como à noite a neve cobria o teu peito de ternura. Todos os pássaros se calaram, todos os camiões partiram numa noite destrançada por um amor que ainda hoje noitarde nos murmúrios que em grãos de escuro florescem nos meus ombros.