domingo, julho 03, 2005


Ninguém disse que o futuro não viria. E assim eu que às vezes sou a criança sem história, a casa abandonada no fundo de um inverno, o estrondo bruto de uma porta que se fecha ou tão simplesmente o abraço circular e silencioso de uma pulseira em torno de um punho, faço de mim o dia presente, a hora fulgente de uma tarde sem destino ou palavras. E aqui os pensamentos semeados na escuridão estendem-se pelo nu areal espraiado nas margens da minha tristeza e eu fico de olhos abertos para o céu numa solidão agora povoada e luminosa. Lá longe eu sou a brisa que descobre o rosto dos meus amigos, aquela água salgada onde as gaivotas morrem, a última areia submersa pelo silêncio do mar.