sexta-feira, julho 08, 2005


Os lençóis da minha infância, os lençóis da minha infância são o lugar de todos os pianos dentro dos meus olhos. O lugar onde abria os braços e de manhã era feliz como um fim de tarde junto ao rio com o meu avô. Feliz? Começo hoje a tê-lo sido; começam hoje os últimos dias em que a terra se estende infinita como os meus lençóis de madrugada enlevados por uma música que se perde ao segurar-me como um barco sem mais noites ou silvos de um esquecimento feito de longe. Nenhum martírio fechado, nenhum homem cansado caminha por entre as voltas brancas dos meus lençóis desfocados como a minha memória. E à noite, também nenhuma palavra me cobre como o céu, e nenhuma tarde perdida se esquece das flores dentro dos meus olhos abertos ou dos meus sapatos descalçados junto à cama. Não sei não sei talvez os meus lençóis estejam ainda somente na minha imaginação como um tempo de inocências dentro dos pianos abertos nos olhos lavados pela infância dos meus lençóis.