terça-feira, outubro 25, 2005


Aquele que me leva para longe adormece nos carris longos e extasiados por uma morte tão bela como o respirar de uma mão muito cheia de sonhos e lágrimas. Pela tarde dentro leva-me leva-me e enquanto a terra de pálpebras abertas brilha nos meus olhos há imagens tremendamente puras que se deitam lentas para dentro de mim. No respirar das janelas do comboio que me leva, no som surdo das admiráveis máquinas que estremecem vastas nas planícies e ravinas, a minha vida arde perpetuamente nas viagens que traço como uma rosa secreta que se recorta no ar em dor para no jardim florir. Tudo me deixa: a loucura, a confusão, o vento violento da vida espantada de uma infância loira e de olhos arregalados. Tudo me deixa. E eu subindo as mãos ao céu perco o pensamento na memória e na terra, e nos espasmos lentos do crescer da terra em meu torno as janelas perdidas para a paisagem são a minha única palavra de lábios entreabertos, a minha única imagem, o lugar mais extremo e rasgado que ao entardecer descubro no ar ardendo longo e sem fim.