quinta-feira, dezembro 29, 2005


E para nascer? Em dois kilogramas de farinha deitavamos uma dúzia e meia de ovos. um quarto de litro de azeite. o sumo de uma laranja. uma colher e meia de sopa de sal fino. e sessenta gramas de fermento. todos os anos a minha mãe nascia exactamente aqui. ignoro que palavra ou som se soltava das suas mãos enquanto a massa era golpeada até à dormência numa violência de um amor enorme. eu ignoro o que acontecia; se a minha vida estremecia, se de amor eu me comovia e aparecia cegamente abraçado e enorme em torno dela. tão trémula. tão esmaecida na mulher profundamente árdua que então se iluminava só, na cozinha.