domingo, dezembro 11, 2005


Eu amo estes meus dias quando na tua casa o sol ainda espreita assim, caído pela rua como um milagre suave e minucioso. É ele que doce tacteia à volta do chão pelas flores desertas que tal como eu também caíram na idade de uma pequena membrana de luz remendada e espalmada pelo soalho entardecido. Eu amo a luz que entra assim de mansinho como uma canção cintilante para o meio da eternidade. Eu amo estes meus dias de flores afogadas no silêncio extinto e tão raro destas tardes de inverno em que tudo é a luz desta ilusão abismada de haver vida e sonhos. No verde-mar do meu silêncio eu fico nu e todo o meu corpo se baixa por uma gravidez de um respeito sem tamanho enquanto na luz as minhas mãos fazem do sol uma criança luminosa que dança como um pensamento urgente e alto sobre a copa das árvores numa ramagem pulmonar e amniótica. Eu amo estes dias que nascem de verdade ao encontro do chão sentado na minha vida.