quarta-feira, junho 21, 2006

Miratejo, 18 de Junho de 2006.


Quando aqui foi dita, esta imagem não sabia. pequena, ignorava quanto ainda teria para dizer. para dizer que vos pertencia. que só e a todos vós pertence. não sabia porque não era possível sabê-lo, digo. Mas hoje. agora, sei-o. A poesia não morre por causa de ti. de ti. de ti. de ti. e de ti. e de ti. e de ti. Por tudo. por tudo o que vocês são eu só posso levar os meus olhos ao céu. e sentir-me homem. assim pequeno e humano. com um coração que se confude com a luz comovida. ou com a beleza. com o meu rosto lavrado pelo pranto azul do caminho para o céu. e uma boca espantada por um silêncio gasto pela terra. para depois, para depois eu abrir as mãos. e depois. convosco. eu trazê-las de novo ao peito. e aí eu sou. aí um pássaro. que existe. que contigo, que por ti religa o céu à terra em torrentes lilases através dos corredores e dos dias. eu trago-vos todos comigo. tão por dentro de mim. tão perto. tão suavemente. como o teu respirar junto ao vidro. junto ao mundo. que não morre. tão perto como um abraço de papel que se desdobra numa página. tão perto quanto o vosso olhar. o vosso cuidado. a vossa atenção. o vosso escutar. e a minha noite é mais feliz. porque não morre. porque a poesia és tu. e tu. e tu. e tu também, ouviste? e tu também, sabias? sim, tu também. porque a poesia somos nós. quando sorrimos. quanto tu, meu amor, quando tu sorris. quando tu. sim, tu, e tu e tu. quando sorrimos. ou quando choramos. porque para isto, para isto do poema contínuo, para isto basta sermos e morrermos. basta erguer as mãos ao céu. e ver um pássaro. e saber. e saber que tudo está ali. dado. doado. e sem porquê.