terça-feira, julho 04, 2006


depois. depois o crepúsculo nos meus olhos. e por dentro da noite, perseguido pela luz, dedico-me ao lento lavrar dos meus sonhos. se eu pudesse atravessar os bosques da memória, penso. ah se eu pudesse atravessar os bosques da memória total dos meus dias. chegar aos líquenes presos na casca das mãos. pudesse eu pensar a erva que balançava naqueles campos que perdi nos cabelos da minha mãe. pudesse eu atravessar imagem a imagem. pudesse eu regressar ao centro de mim mesmo e minhas mãos deixariam de ser este muro escuro. escrito no silêncio espesso lavrado pela chuva. mas continuou a chover. é verão e lá fora mas continuou a chover. e agora, agora passo esta mão pela luz. sob fibras transparentes. penso como foi possível. como foi possível uma terra chamada rosto, como foi possível o meu nome lavrado sobre a chuva. sobre aquela chuva indecifrável. sobre aqueles ramos, diante da água imóvel. diante daquelas margens. como foi possível, como foi possível o silêncio do destino no esquecimento. neste esquecimento.