terça-feira, julho 11, 2006


Em pleno coração de Sesimbra nasce ainda esta praia em laços largos de água destrançada. A praia, lembro-me bem, começava cegamente murmurada na sombra das rochas. Descia abrupta, sem avisar, sem sequer convidar alguém ou sequer ninguém. Era um lado escuro, uma ternura embotada pela luz só perfeita entre o corpo nu do areal inteiro, o mar e as pedras que se precipitavam nele como um cavalo esbaforido em neve ou em chamas. Água de uma luz tão sonora como as minhas lembranças, areia tão branca como a nudez em mosaico daquela impensável mulher dobrada e deitada sobre as amarras do amor de um mar, esta praia era um dos três locais que sem querer selava o nome sofrido do esquecimento que então o principezinho atravessava. Ali ele tinha sido um homem de sorriso. Disposto o corpo ao breve incêndio das marés azuis, nenhum barco, nenhum outro homem sofria com ele a dor daquela água, o sopro das memórias que batiam no convés envidraçado daqueles ombros. Disposto à altura da água. da água então pela cintura. e depois da força, caminhava como um cavalo muito acordado e escurecido junto ao céu e às rochas. porque era preciso ter força. porque era preciso força, dizia numa voz muito loira e baixinha o principezinho.