quinta-feira, agosto 10, 2006



que dias são estes que a noite não acaba? enquanto o corpo das praias arde. no sangue. de amor. na noite cansada, que dias são estes que nenhuma noite finda? logo crucificada nos espinhos pasmados das luzes. longe. lá. ao fundo do horizonte tão negro. de olhos muito vivos e parados. como aquela brancura. aquela brancura das feridas amarelas. das imagens bocejadas no silêncio de um gesto. que talvez nem sequer exista. e eu vejo a praia, oiçam-me. eu estou na praia durante a noite. e eu durmo no meu silêncio através do escuro que resiste. sou eu. estou aqui. sou este gesto. uma trajectória autista para o interior da noite. precipitada no meu peito. ouçam-me, digam-me. o meu gesto é como um filme mudo rasgado nos dentes de um lobo sangrento. como um ponto. um dia. um dia que a noite não acaba. nula. logo crucificada, aqui. ouçam-me: o escuro na praia. é tão grande. a noite é esta mulher que sonha a luz. estas luzes. lá longe. mulher que sonha. homem após homem. numa dança inquietante. de vida. homens rápidos pela praia. que desaparecem. como pregos. líquidos. luzidios. como o sol no ventre dos pirilampos. musculados na dor da noite: e eu pergunto: que dias são estes, tão tristes. que ninguém os vê. que ninguém os sabe. e eu pergunto: que dias são estes que nenhuma noite por dentro deles termina? eu pergunto. eu esqueço. como uma pancada forte na cabeça. eu pergunto. deitado. eu durmo. eu não quero saber.