sexta-feira, outubro 20, 2006


Naquela noite. Cristo chorou. O Homem de Nazaré olhava a tempestade que varria o seu próprio peito e tentado de raiva deixava-se cair em tristeza e paixão. Sabendo Jesus o que lhe aconteceria, levava as mãos ao rosto e em silêncio meditava sobre a sua prisão. A si mesmo tinha dado em traição os seus próprios lábios. A si mesmo tinha dito: 'sou eu'. Alguns dos que o rodeavam de espanto caíram por terra como num clarão, e erguendo-se o Filho do Homem disse então:

'Em verdade, em verdade, vos digo:
não se perturbe o vosso coração
porque na casa de meu Pai há muitas moradas
e o caminho que eu trago virá até vós
através de mim
porque eu estou no Pai e o Pai em mim.

Para onde eu vou ninguém pode também ir
porque estreita é a passagem rumo à glorificação.'

Cristo levou as mãos à sua barba. Tinha os olhos quase fechados. Através do seu coração caminhavam imagens de si mesmo e assim desmontava em dor o que em si havia ainda de próprio. Cristo chorou. naquela noite de luz. clara pela manhã.