sábado, dezembro 23, 2006



eu estava morto e dentro da lâmpada que batia branca contra as casas o meu sono era aquele animal morto que se estilhaçava sobre uma canção dentro da água. soubesse eu, soubesse eu o que me esperaria ainda; se crescer, se morrer iluminado no zumbido da sirene que canta os mortos pelas ruas para que ninguém possa soldar o silêncio. eu estava morto. e era como se alguém passasse de noite pelas ruas e a calçada se enrolasse contra as casas junto ao branco de uma lâmpada. quebrando-a. batendo, insistindo. batendo porta a porta para ninguém adormecer naquela mulher do lado de dentro do frio. rápido. tão rápida. mulher que se rompe de lâmpada apagada. é a mulher que desato com as mãos em redor da luz. a mulher que saía das casas. avançando. porta a porta. saindo dos vestidos de pólen com o cabelo por dentro muito branco nas pálpebras da cegueira. dentro daquela lâmpada. que batia no tacto das casas. que se equilibrava na rosa feita de nuvens. da mulher. e do seu vestido que se queimava nas pupilas dos meus olhos.