domingo, dezembro 17, 2006



Eu estava morto. e naquele dia eu vi-te. vi uma mulher que dentro de si respirava o escuro nas suas grandes asas brancas. uma mulher que dentro das suas plumas era a noite. aquela noite de onde nunca acabarei de regressar. aquela noite onde as mulheres se volteavam no céu como nuvens muito negras. nuvens que respiram o céu antes da noite. nuvens que morriam uma a uma. como aquela mulher que acordada me via. quando as mulheres não param de morrer dentro da minha escuridão escavada no terror do meu quarto. porque as mulheres não param de morrer e oscilam dentro de mim tecendo o tempo dos dias da lembrança e da minha desgraça. depois da chuva. daquela chuva de que morro. correndo. gemendo no candeeiro do meu quarto. porque morrem como as amendoeiras dentro das crianças arvoradas nos frutos. e na terra devastada. dentro do. pó. daquele pequeno brilho dos meus olhos. deixados. na melodia de estar em silêncio. na melodia dos meus olhos. que se apagam desfeitos. deixados ao fogo. e sem ninguém os ler.