segunda-feira, novembro 26, 2007




Sei que estou cada vez mais doente, digo em murmúrio. Falam dentro de mim os álamos e as noites cheias de palavras suaves. Extintas estão as árvores dentro do meu peito, dos jardins e da terra molhada. Não tenho quase medo nem esperança. Venho de uma praia negra e de caminhos vazios feitos só de vento sobre as ervas. Amei tudo o que perdi. Sou como uma palavra impura e sem pétalas submersa na sombra do poço de um jardim torturado pela humidade das mulheres. Dentro de mim cai o frio do meu coração e a verdade é esta tristeza coagulada numa doença feita de luz e extinção. Sei que estou cada vez mais doente. É o crepúsculo de todas as tardes que o diz. Não quero pensar. Nem recordar o sol. Só quero sentir esta luz. esta luz nas minhas mãos. este primeiro animal visível do mundo. esta serenidade na confusão dos sonhos luminosos. e que os pássaros passem. e que com eles também o céu passe ante os meus olhos. suave. tão suave como o esquecimento e a sabedoria. a sabedoria no pensamento e no seu desaparecimento para a ternura.